Disney fecha acordo estratégico com a OpenAI para controlar o futuro do copyright na era da IA
A Disney firmou um acordo de três anos com a OpenAI que permitirá o uso oficial de seus personagens em imagens e vídeos gerados por IA a partir de 2026. Mais do que tecnologia, esta parceria revela uma disputa pelo controle do copyright no futuro digital. Entenda o impacto, as motivações e as implicações para a indústria.
12/11/20253 min read


Getty Images
Um movimento que une interesses opostos
A Disney e a OpenAI confirmaram um acordo de licenciamento válido por três anos que permitirá a geração de imagens e vídeos com mais de 200 personagens oficiais de franquias como Star Wars, Marvel e Pixar dentro do ChatGPT e do Sora.
A união, contudo, é curiosa: enquanto a OpenAI já admitiu que é “impossível treinar modelos modernos sem conteúdo protegido por direitos autorais”, a Disney é historicamente o estúdio mais rigoroso na defesa de copyright nos EUA — e responsável por influenciar leis que mantiveram personagens como Mickey Mouse fora do domínio público por quase um século.
A postura da OpenAI diante do copyright
Antes do lançamento do Sora, a OpenAI teria sugerido que criadores poderiam optar por não permitir que seus trabalhos aparecessem no app, mas recuou dias depois.
Além disso, em documentos regulatórios, a empresa reconheceu o uso inevitável de materiais protegidos no treinamento de seus modelos — algo que a colocou na mira de artistas, estúdios e veículos de imprensa.
A Disney como guardiã da propriedade intelectual
Nenhuma empresa moldou tanto as leis de copyright nos Estados Unidos quanto a Disney.
A companhia foi protagonista na aprovação do Sonny Bono Copyright Term Extension Act, apelidado de “Lei de Proteção do Mickey”, que congelou a expansão do domínio público por décadas.
Somente em 2024 o clássico Steamboat Willie entrou finalmente no domínio público após 95 anos.
Essa tradição torna o acordo com a OpenAI ainda mais significativo — e estratégico.
Quem realmente ganha com essa parceria?
Apesar de parecer benéfico para ambas as partes, o acordo favorece profundamente a Disney em termos de poder e controle.
O que a Disney ganha:
Capacidade de monitorar e controlar totalmente o uso de sua propriedade intelectual em IA.
Um assento em um comitê conjunto de supervisão sobre os conteúdos criados no ChatGPT e no Sora.
Legitimar vídeos gerados por IA ao exibir conteúdos selecionados no Disney+.
Preparo para um próximo ciclo regulatório que pode alterar a forma como copyright é tratado na IA.
O que a OpenAI ganha:
Acesso oficial às propriedades mais valiosas do entretenimento mundial.
Um investimento de US$ 1 bilhão, relativamente pequeno diante dos custos operacionais e do ritmo de expansão da empresa.
Potencial uso ampliado de suas APIs dentro de produtos e plataformas da Disney.
Mesmo assim, operar com conteúdo licenciado deve aumentar o custo operacional para a OpenAI, que passa a lidar com royalties e obrigações legais mais rígidas.
O impacto político e regulatório nos EUA
O acordo surge enquanto o governo Trump prepara uma ordem executiva destinada a derrubar regulações estaduais consideradas “excessivas” para IA. Isso pode criar um ambiente mais flexível e pró-inovação — porém incerto.
A Disney demonstra estar se antecipando a possíveis mudanças, garantindo instrumentos de controle antes que o cenário legal seja redesenhado.
Por que a Disney escolheu a OpenAI em vez do Google
Um dia antes do anúncio do acordo, a Disney enviou um aviso de infração de direitos autorais ao Google, acusando seus modelos de IA de gerar conteúdo violando IP da companhia.
Escolher a OpenAI — e não o Google — é estratégico:
A OpenAI está em posição mais vulnerável e mais disposta a conceder controle.
O Google, com valor superior a US$ 3 trilhões, nunca permitiria influência tão direta.
A Disney conseguiu estabelecer governança efetiva sobre o uso de sua propriedade intelectual.
Trata-se de escolher um parceiro que pode ser influenciado — e até moldado.
A corrida pelo licenciamento audiovisual começa agora
Assim como ocorreu com distribuidoras de notícias, que passaram a fechar acordos com empresas de IA para evitar longas batalhas jurídicas, o setor audiovisual parece entrar no mesmo ciclo.
A Disney pode estar iniciando uma nova tendência:
licenciar cedo;
estabelecer regras;
garantir receita;
influenciar o rumo da tecnologia.
E talvez já tenha conquistado as melhores condições desse novo mercado.
